Rádio Reverberação

sábado, 12 de maio de 2012

A xícara de café, a arte de historiar e o problema do sentido da história




Não há nada mais indefinido do que os caminhos da História. Todas as vezes que esperançosos para o passado encontramos por lá as mesmas obscuridades do futuro, e essa é a magia que o tempo nos proporciona: a possibilidade dele sempre ser explorado e nunca fechado. Os usos do passado definem quem somos e o que seremos, permite alcançarmos lugares inimagináveis, e projetar mais do que achamos que somos capazes, e na maioria das vezes, depois de muito empenho, conseguimos isso. Não é à toa que ela ainda exista e possibilita que ainda possa ser estudada. Os homens do presente sempre têm mais questões e caminhos para se traçar via passado.

Ao contrário que muitos leigos acreditam, a História é muito mais do que apenas conhecimento de curiosidade, de anedota para ser contada no balcão de um bar. A História constrói e carrega a identidade e essência de um povo; traz consigo a forma de transformação de uma sociedade, de revoluções de uma geração. A História é uma disciplina, uma ciência e em grande medida não deixa de perder o seu caráter de arte.

O historiador, esse sim, em meio às suas anotações, livros, angústias, ideias e infindáveis xícaras do mais forte e encorpado café é muito mais do que apenas um pesquisador e professor. O historiador é um mago, que com seu caldeirão mágico revela imagens que ninguém mais pode. Ele é o mestre da palavra, o senhor do tempo, a voz dos esquecidos. A história escrita, o produto de sua feitiçaria, é também muito mais do que um monte de datas e nomes importantes... ela é o mundo! tanto de fantasia como de realidade... é uma mistura do que foi e do que poderia ter sido.

Nos últimos tempos tem sido muito debatido uma questão que vem me interessando muito: Como transformar a História em uma disciplina que “faça sentido” não apenas para os investigadores do tempo, para toda a sociedade. Talvez este seja um problema para outras gerações resolverem, mas é preciso que a nossa tome consciência dela. Antes de qualquer coisa, o próprio historiador precisa ter respeito por ela. Vejo cada dia que passa o crescimento da displicência dos estudiosos com ela, tratando-a de qualquer jeito; alunos universitários que não fazem a menor ideia do que estão fazendo, do porque estão em um curso como o de História. O próprio profissional tem que ter mais respeito pela disciplina e assim começar a traçar estratégias para ela “faça sentido” e não só para nós mesmos; afinal, só eu entender sobre o que eu faço é bem chato (e isso está se tornando muito verdade).

Outro passo que acredito ser fundamental para que a História “faça sentido”, e esse até mais interessante, é a “massificação” da História, não no sentido da produção em larga escala de artigos, capítulos, livros, anais e blá blá blá... A História precisa chegar ao grande público. Para isso os meios de comunicação como a televisão, o rádio e principalmente a internet devem intervir junto com os historiadores para que isso se efetive. Cada vez mais eu vejo a importância que um blog, uma fanpage no facebook, uma conta no twitter pode fazer para a propagação de ideias e informações; e os profissionais do tempo devem aprender a se relacionar com isso. Mais programas fixos sobre história (mas não apresentados pelo o Ricardo Bueno, mas por um historiador sério e de verdade) deveriam ir ao ar na TV. Por que física, química e matemática desperta mais interesse? Nunca vi o Mundo de Beakman fazer um episódio explicando os métodos de um historiador, ou o Globo Ciência dedicar um mês para falar sobre os Arquivos do país. A História não “faz sentido” para o grande público porque está longe dele, e não há profissional que aguente ser menosprezado, e até mesmo pelo seu próprio governo, por fazer um trabalho tão importante, mas que ninguém conhece; muito mais pela falta de incentivo do que vontade... afinal, quem não quer ser um Best seller?

Mas mesmo com todas essas adversidades que a História e os historiadores enfrentam ainda sim o mundo precisa de nós. Bom seria se os profissionais de hoje fossem mais atuantes, se a sociedade visse-nos como uma peça fundamental para o seu entendimento e formação. Mas o SE não existe na História (tudo bem, tem aquelas mentirinhas que todo mundo conta), no entanto, ela se constrói com a ação de homens, mulheres, guerreiros, reis, sapateiros, professores, garis... seres humanos. E todas as ações acontecem no presente. Por isso, aproveite o seu, faça boas ações, viva da melhor forma possível... Não vale a pena gastar a única chance que tem. Faça amigos, namore, trabalhe, estude, beba café... faça a sua história.

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