Rádio Reverberação

sábado, 28 de dezembro de 2013

Androides sonham com ovelhas elétricas?

Seguranças armados de um Shopping tentam "filtrar" os consumidores

Seriam deuses os astronauras ou profetas os escritores de ficção científica? Enquanto os primeiros parecem ser mais plausíveis aos programadores do History Channel, os segundos me surpreendem a cada leitura. Não apenas os supercarros ou os computadores ultramodernos que estão saindo das páginas dos livros, mas as pessoas estão cada vez mais parecidas com as distopias futuristas. Assim como em “O Caçador de Androides”, a dependência da máquina simulando vida é uma realidade cotidiana, as relações humanas estão cada vez mais distantes, a reclusão e individualização é uma opção. No clássico de Phillip K. Dick, basta apertarmos alguns botõeszinhos na “Caixa de Empatia”, ou seguir os ensinamentos de Wilbur Mercer, ou assistir o programa de Buster Amigão – que nunca sai do ar -, para que as pessoas resolvessem seus problemas voltando-se para si mesmos ainda mais. Não muito diferente do que estamos fazendo hoje. O futuro caótico está cada vez mais perto, o tempo está desordenado e a modernidade é um grande catalizador da desintegração. Nas últimas semanas vimos – e ainda estamos vendo -, a questão dos “rolezinhos” nos shoppings de São Paulo. Uma grande expressão daquilo que há décadas têm se tentado combater, mas que está claro que nunca terá uma solução: a segregação deliberada do diferente. Rick Deckard “aposentava” androides além do perigo que alguns representavam ou do trabalho que exercia. Os aposentava simplesmente pelo fato de não sentir absolutamente nada por eles. Hoje a mídia e a classe média emergente elege seus androides dos quais não podemos ter nenhuma empatia. Deturpamos o que é e o que não politicamente correto e simplificamos em um discurso de autoproteção, de nos reservar frente ao perigo do vandalismo iminente. Estamos com medo do quê? Por que ficar em casa é a melhor das opções? Nossos vizinhos são realmente tão perigosos assim, mesmo com a grama deles bem mais verde? O mundo está cada vez mais individualista, e as relações pessoas mais políticas. O futuro não será ameaçado por isso – outra coisa deve destruir a terra -, mas e a nossa humanidade? Logo logo precisaremos de testes Voigt-Kampff diariamente para ter certeza se não passamos de androides antipáticos.

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Somos causadores de nossa própria extinção

Homem usa máscara na área de Zamalk, onde oposição acusa 
governo sírio de ter usado armas químicas REUTERS/ Bassam Khabieh

Nos últimos dias nos deparamos com uma das maiores tragédias da história da humanidade. Mais uma tragédia artificial provocada pelo espetacular, e perverso, intelecto do Homem. Os ataques com armas químicas na Síria mais uma vez mostra que estamos caminhando para o caos. Mesmo sendo homo politicus, não sabemos utilizar essa condição em benéfico de todos. A guerra acontece a partir do momento em que o ego/interesse de poucos ultrapassa o bem estar de muitos, ou melhor dizendo, quando uma minoria põe em jogo a vida de povos inteiros a fim de manter ativo seus interesses particulares ou de grupos ao seu redor. Não importa – a princípio - se estamos ao lado de Bashar al-Assad ou dos rebeldes. É necessário sempre colocar em primeiro plano o povo sírio. Homens, mulheres e crianças que estão todos os dias lutando para viver em um país soberano, em um ambiente que possam viver – não sobreviver – em paz, nem utilizar do artifício da guerra para isso. Tal situação não se alcança com o diálogo, não é atingida através da democracia, nem de longe. A resistência, neste sentido, é justificável como instrumento para se alcançar a paz roubada pela ditadura. O grande ideal é que não tivesse a necessidade de embate bélico, mas acordos políticos benéficos. Que ingenuidade.

Frente a não possibilidade do grande diálogo vemos as notícias sobre ataques de armas químicas em pleno 2013. Imagens chocantes de crianças mortas, pessoas passando mal e desespero por parte de todos. Quem se beneficia com tais ataques? Em quais reais circunstâncias eles ocorreram? Prudentemente os órgãos noticiosos falam em “supostos” ataques com armas químicas por não terem como confirmar se são mesmo ou não. No entanto, os corpos enterrados em valas comuns, em Damasco, esses sim são verdadeiros. O grande fato é que centenas de seres humanos, a devassa maioria de crianças inocentes, pereceram graças ao poder destruidor do Homem. Somos causadores de nossa própria extinção. O auge do poder tecnológico é mesmo o início da catástrofe. É difícil imaginar um futuro melhor. Nunca pudemos aprender com a história, mas mais do que nunca os historiadores não conseguem imputar sentido a ela, e isso não atinge positivamente a humanidade e seus gestores. Não espero dias melhores... não mais!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

O povo grita por um novo Brasil!

Manifestação na av. Paulista, São Paulo-SP, 18 de junho de 2013

É possível, como pretenso historiador, ficar calado frente à onda de manifestações ao redor do Brasil? Evidentemente que não. Como observado pelo terror dos primeiros períodos, Marc Bloch, ao se referir a uma conversa que teve Henri Pirenne, o historiador é por excelência um observador de seu tempo. Tem sido constantemente lembrando nas redes sociais que os protestos não são apenas pelo aumento abusivo do preço das passagens de ônibus, ele aparece como pretexto... afinal, os protestos na Turquia são apenas pelas árvores a serem derrubadas para a construção de um shopping Center? Claro que não... mas é também, assim como os famigerados 20 centavos. Isso de fato não é, PARA MIM, a coisa mais importante nisso tudo. O que é primordialmente relevante é o grito, até mesmo inesperado, da população. Um grito de desespero e alerta: o Brasil está doente! Está ferido por uma elite autoproclamada que abastecida pela máquina do Estado usurpa do cidadão o direito de viver em um país justo. A injustiça está em todas as esferas, e aquilo que para uns é trocado de pinga, é para muitos o fragmento de sua miséria. Nos últimos dias, maravilhosamente, as ruas estão sendo ocupadas não por “punks” (como insiste em taxar a mídia), não por vândalos ou marginais... mas por uma massa que não aguenta mais viver em um país falido. Porque só agora? A pergunta é porque não agora? Do que importa se uma cidade leva 100 milhões e outra leva apenas 200? O que importa é o verdadeiro despertar de um povo cansado. O Brasil está caminhando bem, e isso graças aos governos Lula e Dilma... a evolução é nítida, o que irrita demasiadamente os reacionários e órfãos da ditadura militar. As reivindicações são para garantir que o crescimento do país apareça nos livros das escolas, nos leitos dos hospitais, no transporte dos trabalhadores, nas árvores das praças, no prato do povo. Hoje não estamos vivendo uma “festa da democracia”, pois não há democracia sem o mútuo cumprimento de deveres e direitos (do Estado e do Povo); somente quando tivermos um país verdadeiramente soberano poderemos comemorar uma era em que a voz do povo é a voz de Deus.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

O triste sorriso de uma piada inacabada


RIR DE UMA PIADA é por vezes inevitável. Escutamos, assistimos ou lemos uma história engraçada e instintivamente o botãozinho do humor é acionado. A piada é a fuga magistral da verossimilhança, o mergulho para o paradoxo, a exaltação do inacreditável. Ela (a piada) pode ter tom crítico, ser apenas uma brincadeira, uma leitura do mundo e não precisa ter compromisso algum com a verdade. Isso me parece aceitável pelo simples e ridículo fato de não sabermos onde está a verdade que todos nós filosoficamente clamamos. A mentira (irmã da piada) surge muitas vezes para encobrir as verdades que não queremos mais mostrar, e há mentiras que acreditamos tanto que passa a ter caráter de verdade, tornando-se assim uma piada sem graça. Qual é o efeito que queremos ao contarmos uma piada? Queremos fazer o mundo rir, queremos fazer o mundo chorar? Estamos verbalizando nossa felicidade ou escondendo as fracas batidas de nossos corações? Ridicularizamos o mundo, rimos das pessoas, fazemos piadas conosco, mas no final não sabemos o porquê. As verdades que acreditamos ou as mentiras que contamos fazem parte de um mundo de fantasias que todos nós criamos e negar isso é fazer uma piada de mau gosto. É necessário esconder palavras para realmente dizer o que eu gostaria, mas refutar o egoísmo é igualmente um ato de se fechar em um mundo só nosso, inventar verdades falsas e acreditar que uma piada é apenas uma piada. Cada um acredita na verdade que lhe convém.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

O drama de Medeia

Medeia, por Eugène Delacroix

Coitada da Medeia... acho mesmo que ela poderia ter um fim diferente, que tanto poderia ser para o bem, quanto para o mal... depende da interpretação do sujeito. A moça atravessando a linha tênue entre a razão e a paixão precisava escolher um lado e nele ficar. Quaisquer das duas opções que ela escolhesse sairia com o coração ferido. Escolher a razão ficando ao lado de seu pai e de seu povo, ou escolher a paixão e ajudar Jasão, seu amor, a completar sua missão?! A jovem escolhe a segunda opção e paga um altíssimo preço por isso. Deixou que a paixão a guiasse à tragédia. Uma escolha arriscada, que de fato ela não saberia onde a levaria. Por fatalidade do destino ela se deu mal. Mas mesmo assim ela foi, deixou ser guiada pelo seus sentimentos mais passionais. Mas e se ela tivesse escolhido ficar quieta em seu canto, usar a cabeça e se afastar de Jasão? Em tese as coisas seriam bem melhores... o cara não conseguiria cumprir as missões de Eetes, ao mandariam ele embora e a galera em Cólquida viveria feliz para sempre... Medeia não estraçalharia seu irmão, não seria trocada, não mataria seus filhos... peraí! Nessa o Eurípedes sacaneou... ele foi um pouco exagerado, talvez o desfecho não seria tão trágico... a moça poderia viver aventuras, passaria uns perrengues aqui e ali, teria dias difíceis com tempestades em alto mar, ficaria puta as vezes por conta disso, mas no fim valeria a pena... Mas se tivesse escolhido a razão, QUE CHATO!!! Ficaria a vida inteira sob os olhos vigilantes do pai, não sairia do mesmo lugar... se casaria com um jovem coxinha, desinteressante e depois descobriria que o cara é gay (que aqui no facebook todo mundo acharia um máximo), viveria uma vida de merda... só porque preferiu seguir a razão, seguir o mais prudente. Na maioria das vezes a razão é boa, faz com que a gente não quebre muito a cara... mas isso não é viver, isso é levar as coisas. Claro que nem todo mundo tem vocação pra ser Medeia, mas deixar as paixões guiarem pode ser uma aventura e tanto. Pode ser que o desfecho de Eurípedes ocorra, mas pode ser que o poeta esteja completamente errado (e provavelmente está), e fugir de um mundo certinho e seguro seja bem melhor. Mas tem gente que acha que não... então cabe cada um escolher qual lado escolher... mas depois não pode chorar o leite derramado. 


quinta-feira, 14 de março de 2013

HABEMUS PAPAM FRANCISCUM

Papa Francisco


Há tempos temos escutado por aí que a Igreja Católica precisa se renovar, pois está anos luz atrás das mudanças políticas e sociais do planeta, e cada mais fiéis vão deixando a Igreja Romana para adentrar a outras seitas religiosas que chamam mais atenção e dá aquilo que a pessoa quer. Mas entra Papa, sai Papa e a situação não muda. Acredito sinceramente que a tendência das coisas é piorar, e já piorou.

Não é pelo fato dele ser argentino (que já provoca muitas piadas), mas pela desconsideração do Colégio de Cardeais de fatores muito simples que poderiam levar a Igreja Católica para um novo caminho...

Primeiramente é desnecessário a gente ficar discutindo o conservadorismo do cardeal. Dentro da lógica hierárquica da Igreja, o que se esperar de um Cardeal senão um ultra-conservadorismo? Não! Eu sinceramente não esperava outra coisa, pois não tem nenhum nome que possa surgir no comando da Igreja que não o seja; mas certamente haviam nomes mais brandos que poderiam agregar mais para os católicos... Sim! Falo de Dom Odilo Scherer.

Escolher um Papa latino-americano? Isso já deixou de ser uma impossibilidade há muito tempo. Escolher um Papa latino-americano que não é brasileiro? Esse foi um tiro no pé. Querem salvar a Igreja Católica, recuperar os fieis... parece até piada... o Brasil, que é o maior país católico do mundo e que está em um processo de perda de adeptos desenfreado era a chave para a guinada católico. Um exemplo bem pontual, mas que no todo corrobora o que quero dizer. Aqui em Mariana-MG, alguns pesquisadores do departamento de história da Universidade Federal de Ouro Preto fizeram uma pesquisa na cidade para saber dos freqüentadores de igrejas evangélicas, que antes eram católicos, o do porque se converteram para outra religião. A grande maioria das respostas estava ligada ao desconforto que a igreja (templo) causava para aquelas pessoas (ainda mais aqui que as igrejas são imponentes). A forma das pessoas se vestirem, o jeito delas se portarem, o ritual estabelecido... tudo isso afasta os fieis da Igreja. A ideia de ter seu líder máximo cada vez mais distante também é outro fator... a imagem do Papa como o Santo Padre está perdendo violentamente a sua força. Agora imagina se o comandante da Igreja é um brasileiro? O efeito que isso acarretaria seria enorme... poderia recuperar a fé católica dos brasileiros e por consequência de outros povos que acompanham a doutrina católica e têm o Brasil como referência para isso.

A questão do Brasil ser o país que mais vem se destacando no cenário político internacional também deveria ser levado em consideração. A Argentina não é um país que hoje tem condições de se lançar para o mundo em dialogar nas grandes mesas... o Brasil sim. Um Papa brasileiro poderia ser a melhor opção para a aproximação da Igreja com os governos... o Vaticano comeu bola...

E o passado do atual Papa? Um sujeito que colaborou rigorosamente com um dos mais violentos regimes ditatoriais da América Latina... acusado de sequestro de crianças e de ser cúmplice em assassinato... bonzinho aqui... bonzinho ali?... todo padre o é... mas o cara é homofóbico, preconceituoso, retrogrado, contra os métodos anti-contraceptivos e por aí vai... esse não é o posicionamento que a Igreja deve ter hoje. O mundo espera uma reação diferente, para que a intolerância dos povos comece a desmoronar de cima para baixo... um líder que apóia a violência forma seguidores violentos.

A eleição de Francisco I, mesmo quebrando com o eurocentrismo, não trará grandes mudanças para os católicos... e arrisco a dizer que a tendência é a Igreja continuar perdendo adeptos, criando polêmicas e embora ainda com grande poder político, o seu prestígio será cada vez menor.

Veremos onde isso vai dar...

A peleja da política com o bom senso


A política venceu o bom senso... aliás, acredito que a política sequer um dia teve que travar alguma disputa com o bom senso. Mas hoje vivemos em um contexto que é difícil acreditar em algumas coisas. O que mais vem chamando nossas atenções é a “virada conservadora-cristã-xiita” que tem dominado as Assembleias legislativas por todo o país até alcançar, inacreditavelmente, a presidência da Comissão dos Diretos Humanos da Câmara dos Deputados, em Brasília. Negociar-se-á por aquelas bandas questões que há muito queremos extirpar de nossa sociedade: a violência, o preconceito, a intolerância... o tal pastor Feliciano já quer criminalizar a discriminação aos heterossexuais... é muito difícil e tortuoso em nosso país, não é verdade? Além disso, existem outras frentes que agridem ainda mais a nossa cidadania. Exemplo disso é a matéria que eu compartilho aqui neste post (clique aqui para ver a reportagem)... a bancada ruralista quer abrandar leis trabalhistas que punem agricultores que mantêm em suas propriedades pessoas que trabalham em condições semelhantes a escravidão, alegando que se deixar de pagar um ou outro benefício de direto do trabalhador é a mesma coisa, ou seja, não é justo perder a propriedade (uma das possíveis penas) por causa disso. Cada vez mais vemos o ser humano sendo massacrado por aparelhos invisíveis corroborados pelo nosso Estado. Não estou evocando nenhum tipo de moral, mas não conseguimos alcançar o estágio de civilização (atenuando o conceito, não quero discutir isso) que a humanidade um dia pensou. A liberdade, igualdade e fraternidade que os revolucionários franceses cantaram estão longe daqui... e mesmo com a velada democracia que tem se fortificado em nosso país, os fins ainda justificam os meios.

quinta-feira, 7 de março de 2013

O assassinato do simples Direito de ser Humano


Quem é ser humano e pode gritar com pulmões cheios que o é? Para nossos representantes políticos são poucos os que podem gozar de tal privilégio. A minoria dominante, que historicamente agrilhoa nossa sociedade, são os que têm seus direitos assegurados pelo Estado brasileiro. Para os olhos de alguns essa minoria forma a verdadeira maioria de nossa sociedade. Como foi muito bem exposto pelo deputado Domingos Dutra, que ao discursar pela última vez na Comissão dos Direitos Humanos disse que na verdade aquela comissão tinha como grande característica assegurar os direitos (e não privilégios) da maioria da população. Mulheres, negros, pobres, homossexuais, crianças, índios, escravos, etc., que são tratados pela maioria da população como minoria compõem o maior quadro de brasileiros. Mas aos olhos do Congresso isso não é importante. O importante não é construir um espaço de debate e ação para erradicação dos males causados por outros seres humanos, mas de alinhar bases políticas internas e externas às tribunas. A eleição de um fascista evangélico, preconceituoso, homofóbico, estelionatário, e por aí vai (o tal do Marco Feliciano), para novo presidente da CDH não é apenas um voo pra trás, mas é mais um resultado sintomático de uma situação que já há algum tempo temos discutido: “a virada reacionária”. Não precisamos voltar à discussão que o Estado é laico e a constituição cobre a todos... isso NUNCA foi posto em prática. Mas a forma que isso se deu desta vez fere todo projeto de democratização e progresso de nosso país. A ordem será imposta de forma unilateral, conservadora e moralmente religiosa, mesmo que a moralidade da religião já tenha se dissipado ao vento há muito tempo. O Parlamento brinca com o povo, e nos leva à barbárie, pois esse é o verdadeiro fim da história... uma história que não se procurava reparar, mas pagar suas dívidas... e que agora declara moratória. Sim! o CDH torna-se uma das piores excrescências de nossa política atual. É o início de um fim melancólico de um projeto que se não estava consolidado (acredito que esteja longe disso), estava encontrando o seu caminho. Agora não é o momento de lamentação, mas um tempo para avaliarmos o que está sendo feito do Brasil e agir para interromper um engessamento ainda maior de nossa situação. Não é o fim, um revés talvez, mas para que os Direitos Humanos continuem soberanos... aqueles que são contrários a tais direitos não podem jamais assumirem o poder.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

O falso cânone literário como fuga do não pertencimento


O famigerado cânone... eu acho que isso não existe mais. Em tempos de modernidade líquida e sua hiper-relativização do tempo, espaço, conceitos, valores e doutrinas está cada vez mais difícil de fazer uma listinha do que é bom e do que não é. Aliás, na era da informação em tempo real, da altíssima produção acadêmica e literária está cada vez mais difícil não seguir o tal cânone. Há poucos dias li uma reportagem dizendo que o professor do ensino básico lê pouco, e quando lê são sempre os mesmos “clássicos”, muitas vezes por obrigação que os currículos impõem ao docente e que acaba afetando os alunos que também só leem aquilo que são obrigados. O que há de novo? Quais são os grandes nomes da literatura atual? (esquerda, direita, frente, retaguarda...) Vejo hoje um enorme medo do não pertencimento, de ler as coisas erradas, ou ficar fora do grupo que acha que lê a coisa certa. Não acredito de modo algum que Dostoievski, Baudelaire e Machado de Assis não devam ser lidos, muito pelo contrário, só não entendo porque eu necessariamente tenho que achá-los melhores do que Philip K. Dick, Isaac Asimov ou Michael Crichton. A ideia de erudição fica cada vez mais restrita aos que assistem Jean Renoir, mesmo não conhecendo absolutamente nada de cinema francês da década de 1930, do que aqueles que preferem Robert Zemeckis e conhecem todas as referências do universo “De Volta Para o Futuro”. A cultura do “parecer ser” é, em tempos de conservadorismo político, tão forte que se acredita piamente que Goethe resolve os problemas de nossa contemporaneidade. Reafirmo que os grandes clássicos são chamados assim não é à toa, têm seu enorme valor dentro da história mundial, devem e merecem ser estudados. No entanto, em pleno ano de 2013 devemos ainda ter uma visão cristã para definir os cânones de nosso tempo?! Para sermos diferentes e começarmos a aprender pra que servimos no mundo hoje temos que parar de construir uma erudição vazia de sentido e inserir no cânone (se é que ele existe, eu acho que não) o que Também é bom fora do óbvio, mesmo que seja popular, afinal... nem tudo que é produzido pela e para a elite tem qualidade garantida.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O historiador e o que é importante para a historiografia

Pesquisadora examina corpo exumado


Talvez essa afirmação tenha lá o seu grande peso de verdade, mas é só isso?

Nós historiadores hoje estamos criando uma gigantesca massa crítica que não critica absolutamente nada. Crítica aqui eu estou considerando a capacidade de leitura e análise de uma determinada questão a ser debatida. Temos cada vez a tendência enfadonha de classificar aquilo que é ou não é relevante para a historiografia. A partir daí construímos um cânone imaginário para um monte de tema que classificamos como politicamente elegante de ser estudado e aquilo que é perda de tempo, e o grande crime... perda de dinheiro!

Hoje foi divulgada uma pesquisa que está dividindo a opinião dos historiadores. Uma pesquisadora da USP, Valdirene do Carmo Ambiel, desenvolveu nos últimos três anos uma investigação que convergiu estudos históricos, arqueológicos e médicos ao exumar os corpos do ex-Imperador do Brasil, Dom Pedro I, e de suas duas esposas, as ex-Imperatrizes D. Leopoldina e D. Amélia. (a matéria saiu no portal do Estadão). Embora a matéria, e a entrevista com a pesquisadora apontem para descobertas pouco conclusivas em alguns aspectos, em outros é possível derrubar algumas teses há muito tempo difundidas pela historiografia, tal como a possível causa da morte de d. Leopoldina (veja a matéria para compreender melhor o caso). 

Qual é o meu ponto?

Há uma série de pesquisadores sérios (que eu conheço) que viram com bons olhos para esse inédito método de pesquisa, bem como há outros pesquisadores que também são sérios (e que eu também conheço) que consideram a pesquisa uma babaquice e um enorme desperdício de dinheiro. Agora eu não entendo porque a pesquisa é realmente tão insignificante. Será porque se trata de um tipo de investigação que está muito mais interessada em criar novas possibilidades de leitura, e até mesmo de divulgação da disciplina, ou porque foge dos padrões canônicos acadêmicos positivistas de pesquisa historiográfica?

Concordo que não podemos festejar ainda o resultado dessa pesquisa, que tem seus pontos falhos (me diga alguém que já realizou uma pesquisa historiográfica sem NENHUM furo), mas nós sequer lemos o resultado. Desqualificar um trabalho como esse é apenas propagar o conservadorismo que faz com que o historiador seja olhada pela sociedade como um profissional fechado em seu próprio mundo (espera aí, a sociedade conhece os historiadores), ou estamos promovendo o debate sobre o que é História e o que não é?

Acredito que nós historiadores temos que começar a reaprender a olhar para o tempo. Simplesmente jogar uma pesquisa no lixo em prol a uma “história a contrapelo” é desconsiderar muito trabalho e grandes possibilidades para a própria reinvenção da disciplina. Temos que ser mais críticos conosco mesmo, e promover um debate sério acerca daquilo que nos propomos a fazer. A História está cada vez mais está perdendo sentido, e são os próprios historiadores, que não confiam em seus pares, os principais responsáveis para isso.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sobre o sucateamento e a depredação de museus no Brasil

museu ferroviário da vila de Paranapiacaba, em Santo André-SP

Pierre Nora ao nos apresentar, segundo a visão dele, a noção de “Lugares de Memória” nos permite pensar sobre a importância de se considerar a materialidade da história. Há momentos em que não podemos simplesmente acreditar na ideia de que um lugar é só um lugar. O nosso passado, como bem sabemos, está trancado a sete chaves em sua totalidade, mas pode e deve ser resignificado sempre seja nas penas de um historiador, nas festas populares, na tela do cinema ou em um museu. Mas infelizmente por vezes a materialidade do passado, os lugares que nos fazem rememorar os tempos pretéritos simplesmente são ignorados pelas autoridades, são sucateados por maus administradores ou depredados por vândalos que não tem a menor noção da importância que isso tem para o desenvolvimento da identidade de um povo. Sempre é triste ler notícias como a da depredação do Museu Ferroviário de Paranapiacaba... roubos, depredações e outros atos maléficos destoem o patrimônio, apagam a história e empobrece a cultura de nossa nação. Pr’álem dos atos criminosos contra o museu... ao ver as fotos do lugar é possível perceber que o museu está jogado às moscas... um lugar que no passado era imponente e fundamental hoje não passa de um galpão velho e destruído (bom, pelo menos é que é possível ver pelas imagens... nunca fui lá). É uma pena que esses fragmentos da história estejam sendo apagados deliberadamente e pouco se faz para que isso mude. Hoje em dia é comum lermos notícias sobre demolição de prédios históricos em todo o país para o benefício do progresso. Que progresso é esse, que prefere ser um desmemoriado do que uma salvaguarda da história do povo?

sábado, 5 de janeiro de 2013

O Estado Mínimo e a "condominização" de Pindamonhangaba

  
Lei que permite o muramento dos bairros de Pindamonhangaba

O “ESTADO MÍNIMO”, uma das grandes excrescências do Estado Moderno liberal, neoliberal ou qualquer coisa do tipo. Assistimos diariamente nossas cidades serem violentadas por seus administradores ao bombardearem com projetos absurdos a população, que em sua grande maioria, não consegue se defender das arbitrariedades dos poderes legislativos e executivos, independente das instâncias. Recentemente foi promulgada uma lei aqui em Pindamonhangaba que permite que os moradores de um bairro murem total ou parcialmente o perímetro urbano que lhes competem, controlando o acesso de quem entra e de quem sai do bairro como se fosse um condomínio fechado. A prefeitura da cidade também transfere todo o ônus de conservação e manutenção das áreas públicas para os moradores da cidade, tornando ela (a prefeitura) apenas fiscal das ações lá realizadas. Isso abre um precedente para que a cidade se torne um complexo de residenciais fechados que limitam o direito do cidadão de ir e vir, bem como usufruir de todo espaço urbano que lhe é de direito. Além disso, é uma forma dos órgãos públicos retirarem de si algumas obrigações constitucionais. O município se isenta de cumprir a segurança e manutenção dos bairros murados, mas não deixará, evidentemente, de cobrar seus devidos impostos. Todos os serviços prestados pela prefeitura ou por concessionárias estão embutidos nos caríssimos impostos que a população brasileira paga, e leis como essa aumenta a carga tributária para os munícipes, bem como uma série de problemas estruturais que levaria muito tempo para enumerá-las. A cidade pertence ao povo. Os bairros não são autarquias... não podem e não devem ser segregados do resto da cidade. Permitir que isso aconteça é ferir nossa cidadania, é ferir a história, é ferir Pindamonhangaba sobremaneira. Uma ação como essa não garante melhorias para a cidade... e não podemos arcar com o ônus da dúvida/dívida.

.: MachadismO :. 1 ano!



Hoje o blog .: MachadismO :. completa um ano de existência. Essa é uma marca até legal. Ando meio displicente com as minhas publicações, fiquei bastante tempo sem mexer com ela e até mesmo não tenho produzido muita coisa original, mas isso não importa. O importante é que este é um dos meus melhores meios de desopilação. Escrever pro vento sempre foi uma coisa que me animou muito, sempre foi uma terapia. Agora que estou em uma fase de profundo estresse por conta da minha dissertação falar para o nada sempre alivia essa tensão. Espero poder fazer com que esse ano o .: MachadismO :. passe a ser lido pelas pessoas, e espero poder contribuir da forma que imaginei quando criei esse blog. Se existe algum leitor secreto aí muito obrigado. 


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A tênue linha entre o Público e o Privado


As noções de Público e Privado assumem, hoje, um substantivo espaço nos debates de caráter social, político e epistemológico. Elas assumem diferentes roupagens no que tange as tentativas de esclarecimento de tais categorias para a nossa contemporaneidade, visto que os horizontes de discussões acerca de suas operacionalidades são bastante amplos. A relação Público/Privado constitui uma espécie de agrupamento social em público, oferecendo aos caracteres individuais as melhores possibilidades de se imporem, assim como as opiniões individuais originais às melhores facilidades para se difundirem. O que se pode perceber é que atualmente o Público e Privado perderam suas linhas divisórias. Cada vez mais é difícil de perceber quando um termina e começa o outro, ou até mesmo em que medida um pode se fundir com o outro. Parece-me que nossa sociedade contemporânea não se preocupa mais com isso. A noção de Público é a que mais perde. Ela foi legada para a esfera do governo, aquilo que é do Estado é público, aquilo que não me atinge é público. O papel do homem na sociedade está cada vez mais individualizado, o que se quer é apenas executar as funções que nos são delegadas e mais nada, servir ao interesse coletivo não é mais um ato voluntário, e por vezes limita-se apenas em um sentimento verbalizado. A esfera Privada domina a vida do Homem, impondo seus interesses e anseios, e tentando a todo custo minimizar a força do Público. A tendência disso é piorar. O que está em jogo não é o “avanço” social, mas a “prosperidade” individual... “se for bom pra mim é bom pra todos” é a frase de ordem, não mais “se for bom pra todos é bom pra mim”, isso não existe mais. Em uma democracia representativa como a nossa isso é ainda pior, pois legamos a outro aquilo que nós mesmos deveríamos reivindicar, e não cobramos, ou se cobramos é apenas naquele momento em que uma ação nos prejudica. Cada um tem sua própria opinião (ônus da liberdade), e devem ser respeitadas; mas é lamentável aquelas que fecham os olhos para um bom maior e abre para particularidades apenas com o desejo da autossatisfação.