Rádio Reverberação

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Sobre o sucateamento e a depredação de museus no Brasil

museu ferroviário da vila de Paranapiacaba, em Santo André-SP

Pierre Nora ao nos apresentar, segundo a visão dele, a noção de “Lugares de Memória” nos permite pensar sobre a importância de se considerar a materialidade da história. Há momentos em que não podemos simplesmente acreditar na ideia de que um lugar é só um lugar. O nosso passado, como bem sabemos, está trancado a sete chaves em sua totalidade, mas pode e deve ser resignificado sempre seja nas penas de um historiador, nas festas populares, na tela do cinema ou em um museu. Mas infelizmente por vezes a materialidade do passado, os lugares que nos fazem rememorar os tempos pretéritos simplesmente são ignorados pelas autoridades, são sucateados por maus administradores ou depredados por vândalos que não tem a menor noção da importância que isso tem para o desenvolvimento da identidade de um povo. Sempre é triste ler notícias como a da depredação do Museu Ferroviário de Paranapiacaba... roubos, depredações e outros atos maléficos destoem o patrimônio, apagam a história e empobrece a cultura de nossa nação. Pr’álem dos atos criminosos contra o museu... ao ver as fotos do lugar é possível perceber que o museu está jogado às moscas... um lugar que no passado era imponente e fundamental hoje não passa de um galpão velho e destruído (bom, pelo menos é que é possível ver pelas imagens... nunca fui lá). É uma pena que esses fragmentos da história estejam sendo apagados deliberadamente e pouco se faz para que isso mude. Hoje em dia é comum lermos notícias sobre demolição de prédios históricos em todo o país para o benefício do progresso. Que progresso é esse, que prefere ser um desmemoriado do que uma salvaguarda da história do povo?

sábado, 5 de janeiro de 2013

O Estado Mínimo e a "condominização" de Pindamonhangaba

  
Lei que permite o muramento dos bairros de Pindamonhangaba

O “ESTADO MÍNIMO”, uma das grandes excrescências do Estado Moderno liberal, neoliberal ou qualquer coisa do tipo. Assistimos diariamente nossas cidades serem violentadas por seus administradores ao bombardearem com projetos absurdos a população, que em sua grande maioria, não consegue se defender das arbitrariedades dos poderes legislativos e executivos, independente das instâncias. Recentemente foi promulgada uma lei aqui em Pindamonhangaba que permite que os moradores de um bairro murem total ou parcialmente o perímetro urbano que lhes competem, controlando o acesso de quem entra e de quem sai do bairro como se fosse um condomínio fechado. A prefeitura da cidade também transfere todo o ônus de conservação e manutenção das áreas públicas para os moradores da cidade, tornando ela (a prefeitura) apenas fiscal das ações lá realizadas. Isso abre um precedente para que a cidade se torne um complexo de residenciais fechados que limitam o direito do cidadão de ir e vir, bem como usufruir de todo espaço urbano que lhe é de direito. Além disso, é uma forma dos órgãos públicos retirarem de si algumas obrigações constitucionais. O município se isenta de cumprir a segurança e manutenção dos bairros murados, mas não deixará, evidentemente, de cobrar seus devidos impostos. Todos os serviços prestados pela prefeitura ou por concessionárias estão embutidos nos caríssimos impostos que a população brasileira paga, e leis como essa aumenta a carga tributária para os munícipes, bem como uma série de problemas estruturais que levaria muito tempo para enumerá-las. A cidade pertence ao povo. Os bairros não são autarquias... não podem e não devem ser segregados do resto da cidade. Permitir que isso aconteça é ferir nossa cidadania, é ferir a história, é ferir Pindamonhangaba sobremaneira. Uma ação como essa não garante melhorias para a cidade... e não podemos arcar com o ônus da dúvida/dívida.

.: MachadismO :. 1 ano!



Hoje o blog .: MachadismO :. completa um ano de existência. Essa é uma marca até legal. Ando meio displicente com as minhas publicações, fiquei bastante tempo sem mexer com ela e até mesmo não tenho produzido muita coisa original, mas isso não importa. O importante é que este é um dos meus melhores meios de desopilação. Escrever pro vento sempre foi uma coisa que me animou muito, sempre foi uma terapia. Agora que estou em uma fase de profundo estresse por conta da minha dissertação falar para o nada sempre alivia essa tensão. Espero poder fazer com que esse ano o .: MachadismO :. passe a ser lido pelas pessoas, e espero poder contribuir da forma que imaginei quando criei esse blog. Se existe algum leitor secreto aí muito obrigado. 


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A tênue linha entre o Público e o Privado


As noções de Público e Privado assumem, hoje, um substantivo espaço nos debates de caráter social, político e epistemológico. Elas assumem diferentes roupagens no que tange as tentativas de esclarecimento de tais categorias para a nossa contemporaneidade, visto que os horizontes de discussões acerca de suas operacionalidades são bastante amplos. A relação Público/Privado constitui uma espécie de agrupamento social em público, oferecendo aos caracteres individuais as melhores possibilidades de se imporem, assim como as opiniões individuais originais às melhores facilidades para se difundirem. O que se pode perceber é que atualmente o Público e Privado perderam suas linhas divisórias. Cada vez mais é difícil de perceber quando um termina e começa o outro, ou até mesmo em que medida um pode se fundir com o outro. Parece-me que nossa sociedade contemporânea não se preocupa mais com isso. A noção de Público é a que mais perde. Ela foi legada para a esfera do governo, aquilo que é do Estado é público, aquilo que não me atinge é público. O papel do homem na sociedade está cada vez mais individualizado, o que se quer é apenas executar as funções que nos são delegadas e mais nada, servir ao interesse coletivo não é mais um ato voluntário, e por vezes limita-se apenas em um sentimento verbalizado. A esfera Privada domina a vida do Homem, impondo seus interesses e anseios, e tentando a todo custo minimizar a força do Público. A tendência disso é piorar. O que está em jogo não é o “avanço” social, mas a “prosperidade” individual... “se for bom pra mim é bom pra todos” é a frase de ordem, não mais “se for bom pra todos é bom pra mim”, isso não existe mais. Em uma democracia representativa como a nossa isso é ainda pior, pois legamos a outro aquilo que nós mesmos deveríamos reivindicar, e não cobramos, ou se cobramos é apenas naquele momento em que uma ação nos prejudica. Cada um tem sua própria opinião (ônus da liberdade), e devem ser respeitadas; mas é lamentável aquelas que fecham os olhos para um bom maior e abre para particularidades apenas com o desejo da autossatisfação.