Rádio Reverberação

quarta-feira, 23 de março de 2016

Nos escombros da política todos se soterram

Foto: Ricardo Moraes, Reuters - (25/10/2014)


A ferida político-social escancarada no Brasil após a vitória legal e democrática da presidenta Dilma Rousseff pode ser fechada? Os posicionamentos políticos dos cidadãos estão se tornando cada vez mais intensos e falsamente polarizados  sem ao menos termos a real dimensão desses polos... e velhos conceitos estão sendo empregados com convicção e o habitual esvaziamento de sentido: direita e esquerda; golpistas e legalistas; tucanos e petistas (parece que só existem dois partidos no Brasil), etc. Discursos de ódio têm tomado as ruas, os bares, os concertos de heavy metal com muita naturalidade... espaços públicos onde a ofensa onde até pouco tempo existia mas era contida e envergonhada, agora é mais explicita e corajosa... Há também os arautos do liberdade, paladinos da democracia que para acreditarem demais nas instituições e acabam por defender o indefensável... convenhamos é necessário. O ensaísta uruguaio Hugo Achugar já apontou que as gerações pós Ditadura Militar (ele fala sobre o caso de nossos vizinhos, mas arrisco dizer que não somos diferentes), ao contrário da geração pré Ditadura acreditam muito mais na real possibilidade de seu retorno, do que os mais velhos acreditam um dia ter uma ditadura daquele porte. Em hipótese alguma acredito no retorno aos tempos sombrios, mas ao ver a tentativa de golpe jurídico-parlamentar em voga é de se imaginar que nosso futuro será duríssimo. Estou lendo e ouvindo muito sobre o acovardamento do STF, que tem força para julgar uns e não outros. Não acho que o STF esteja atuando de forma covarde – de maneira alguma -, acredito que esteja agindo de má fé. O Supremo tem condições de garantir o funcionamento do governo ao mesmo tempo que pode deixar a Lava-Jato continuar, desde que seja conduzida de maneira que não provoque incêndios e que seja de fato justa. Mas enfim, do juiz Sérgio Moro, o passe-livre (esse tem) do deputado Eduardo Cunha, bem como o coquetel molotov chamado PSDB têm impossibilitado o funcionamento do já previamente complicado governo de Dilma. Incitado pela Globo e outros grandes meios de comunicação a onda fascista tirou as camisas verdes (agora com detalhes em amarelo) do armário. Atualmente pode ser extremamente perigoso sair de camisa vermelha na rua e levar uma pedrada na nuca... é preciso escolher bem o que falar e em que lugar. As manifestações populares (algumas nem tão populares assim) têm gerado uma tensão que ao explodir pode instaurar um estado de violência perigosíssimo. As famílias que em 2015 até conseguiram almoçar juntas no natal, esse ano pode ser que não consigam... e depois? E se Dilma cair? A velada paz brasileira voltará? Independentemente do que escolher... quando o muro for demolido os escombros cairão dos dois lados.

segunda-feira, 21 de março de 2016

Vermelho é a cor mais perigosa



Assim como tantas outras coisas, uma simples cor pode, em determinada situação, se tornar um vigoroso símbolo. As cores da bandeira nacional, de um estilo musical, da sinalização de trânsito, do escudo do time do coração, etc... as cores são mais do que cores. Com elas pintamos o mundo, de tons variados de acordo com nosso estado de espíritos e paixões. Em tempos sombrios um feixe de luz é o suficiente para iluminar uma câmara escura e projetar na parede imagens que não dão a noção do que está lá fora. Mas afinal, o que está lá fora? Nas disputas pelas cores em nossa atual e insana guerra política o verde e o amarelo, motivos de orgulho esportivos e nacionalismo seletivo, é diariamente banalizado ao ser mobilizado pelo um enorme grupo de pessoas que ao se posicionarem em um perigoso lado político usam as cores como um escudo da moral, dos bons costumes e da idoneidade. Em contraposição o vermelho, a cor de tudo que há de mau no mundo, o pomo da discórdia a ponto de até bebês (sim, crianças... os malvados bebês de Rosemary) serem hostilizadas por que suas mamães quiseram enfeitá-las com os desenhos da Minnie e Homem-de-Ferro (ambos terríveis comunistas). O vermelho que traz em si mesmo todo o colorido, a cor do nosso sangue, do desejo e da paixão, a mais sedutora e que desperta no ser humano as mais profundas idealizações se torna ao mesmo tempo um sinal de perigo ao que ousam ostentá-lo em praça pública. A culpa é do vermelho, que ousou estampar a bandeira de um (de vários, na verdade) partido fundado por trabalhadores e que um dia ameaçou a ordem e o progresso instaurado pelos democráticos verde e amarelo. O outono chegou para anunciar o iminente e gélido inverno, que pode demorar décadas para passar... e o quente e aconchegante vermelho, o mesmo que poderia nos trazer um alento será o mesmo imã do medo e da violência. Pobre vermelho... não se preocupe, não deixarei você mofar no fundo do armário.