Rádio Reverberação

sábado, 13 de janeiro de 2018

Futebol x Política: lados tão opostos?


Em ano de eleições ser aficionado por futebol se torna, imediatamente, um crime hediondo. Isso se dá, principalmente, por ser ano de Copa do Mundo. Muitos se inflamam, compram álbuns de figurinhas, pregam a tabela na porta do guarda-roupa... se tornam os mais ativos comentaristas do esporte bretão. É claro que isso é intensificado de quatro em quatro anos, mas já há muito nossas quartas e domingos são reservados para que em 2 duas horas se possa ter uma miscelânea de sentimentos assistindo 22 pessoas correndo atrás de uma bola tentando coloca-la dentro de retângulo consideravelmente grande. Mas isso é uma cretinice!! É absurdo que frente a um cenário de desmonte das instituições públicas, constantes casos de corrupção no governo, de golpes em prática e retorno do país aos piores índices econômicos (embora o Planalto diga o contrário), se preocupar com que jogador foi comprado ou vendido por um clube é o mais nojento ato de alienação. Estamos todos perfeitamente aptos a falar sobre música, artes plásticas, literatura, cinema, etc, somos críticos por natureza e definição. Afinal, deixar ligado o Spotify durante uma sessão da Câmara dos Deputados enquanto leio as ótimas resenhas do Omelete é muito mais politizado do que comemorar um gol do Palmeiras, isso não! Sabemos que as redes sociais são, e o Facebook encabeça isso de longe, os melhores lugares para destacar a incompatibilidade ideológica de ser militante político e torcedor de futebol... rende muitos “likes”! Incontáveis vezes já li posts que criticavam profundamente não o esporte, mas aqueles que o amam. Na visão daqueles que não gostam, de fato, o futebol é o “ópio do povo”... acreditam que há uma mágica que cega as pessoas e não as permitem que vejam as mazelas do mundo. Como se o futebol fosse o culpado disso. O esporte, esso sim, faz parte disso. Os estádios brasileiros, que já foram os maiores e mais cheios do mundo, democráticos, que ninguém se importava se o cara do seu lado na “geral” era rico ou pobre, preto ou branco, hétero ou homossexual... ali todo mundo tinha um só coração. Com as transformações do país, com as novas políticas, novos públicos, novos estádios o povo pobre, que sempre foi a maioria, está cada vez mais afastado da vida do futebol. Ingressos caros, obrigatoriedades em ser sócio torcedor, uniformes inacessíveis... isso é imagem de um cenário político grave. O esporte, esse não tem nada a ver com isso. O torcedor, muito menos. Quem dirá que o senhor com essa camisa improvisado do Corinthians realmente não está preocupado com os rumos que a sua vida está tomando e não entenda que isso é resultado de políticas públicas que não o inclui. Mas o amor que ele tem pelo Timão não muda, não faz dele uma pessoa ruim e desinteressada. Como tudo nesse mundo, o futebol (não o esporte, mas o seu gerenciamento) é um negócio e que dá muito dinheiro. Mas assim como em tudo nessa vida, cada vez mais menos pessoas podem usufruir disso da forma que gostaria. Comprar uma camisa de R$250? Não é a camisa que fará a diferença. Voltar-se fervorosamente contra o futebol? Muito menos... estão matando o futebol, isso já é sabido... mas, quem jogará a pá de cal?