Rádio Reverberação

sábado, 28 de dezembro de 2013

Androides sonham com ovelhas elétricas?

Seguranças armados de um Shopping tentam "filtrar" os consumidores

Seriam deuses os astronauras ou profetas os escritores de ficção científica? Enquanto os primeiros parecem ser mais plausíveis aos programadores do History Channel, os segundos me surpreendem a cada leitura. Não apenas os supercarros ou os computadores ultramodernos que estão saindo das páginas dos livros, mas as pessoas estão cada vez mais parecidas com as distopias futuristas. Assim como em “O Caçador de Androides”, a dependência da máquina simulando vida é uma realidade cotidiana, as relações humanas estão cada vez mais distantes, a reclusão e individualização é uma opção. No clássico de Phillip K. Dick, basta apertarmos alguns botõeszinhos na “Caixa de Empatia”, ou seguir os ensinamentos de Wilbur Mercer, ou assistir o programa de Buster Amigão – que nunca sai do ar -, para que as pessoas resolvessem seus problemas voltando-se para si mesmos ainda mais. Não muito diferente do que estamos fazendo hoje. O futuro caótico está cada vez mais perto, o tempo está desordenado e a modernidade é um grande catalizador da desintegração. Nas últimas semanas vimos – e ainda estamos vendo -, a questão dos “rolezinhos” nos shoppings de São Paulo. Uma grande expressão daquilo que há décadas têm se tentado combater, mas que está claro que nunca terá uma solução: a segregação deliberada do diferente. Rick Deckard “aposentava” androides além do perigo que alguns representavam ou do trabalho que exercia. Os aposentava simplesmente pelo fato de não sentir absolutamente nada por eles. Hoje a mídia e a classe média emergente elege seus androides dos quais não podemos ter nenhuma empatia. Deturpamos o que é e o que não politicamente correto e simplificamos em um discurso de autoproteção, de nos reservar frente ao perigo do vandalismo iminente. Estamos com medo do quê? Por que ficar em casa é a melhor das opções? Nossos vizinhos são realmente tão perigosos assim, mesmo com a grama deles bem mais verde? O mundo está cada vez mais individualista, e as relações pessoas mais políticas. O futuro não será ameaçado por isso – outra coisa deve destruir a terra -, mas e a nossa humanidade? Logo logo precisaremos de testes Voigt-Kampff diariamente para ter certeza se não passamos de androides antipáticos.