Rádio Reverberação

sábado, 28 de julho de 2012

Café mexicano


Ingredientes:


60 ml de café expresso

30 ml de tequila

quanto baste de chocolate meio amargo em raspa(s)

quanto baste de canela em pau

As velhas pessoas...


AS VELHAS PESSOAS sempre trazem um sentimento ambíguo quando por acaso, ou nem tanto, nos encontramos novamente. As velhas pessoas nos despertam uma felicidade por nos proporcionar mais algumas horas de conversa e de atualizar a ficha, mas ao mesmo tempo as pessoas velhas carregar o poder da tristeza por fazer daqueles momentos apenas episódios rápidos de nossa vida, e de nos fazer lembrar dos tempos de outrora que só depois de muito tempo vemos que não é possível reconstituí-los. Mas quando as velhas pessoas se encontram nos velhos lugares devolvem o brilho que mudou de foco. Ao mesmo tempo em que é esquisito andar pelas ruas e cumprimentar três ou quatro que você não via há anos, também é muito bom por trazer imediatamente à mente fragmentos de nosso passado que foi muito importante para o nosso crescimento. Não podemos nos esquecer que, assim como Marc Bloch nos disse, somos homens de nosso próprio tempos, vivemos um espaço de experiência e horizontes de expectativas construídos a partir de nossa realidade e temos que ter isso em mente... se lamentar pelo passado que já passou não tornará o presente melhor; são momentos diferentes, outros passados estão alojados no futuro e é pra isso que vivemos, para que o pretérito seja infinito. Mesmo assim, quando trombamos com as velhas pessoas outras tantas vem à mente, tanta coisa que coisa que a gente fez ou deveria ter feito, ou talvez não devesse. Esse é o lado humano da história, isso é a vivência da história. A história escrita, aquela acadêmica é outra, não tem nada a ver com isso... a escrita da história é uma espécie de resposta ao nosso mundo, mas sentir a história e os efeitos que ela tem na gente, e digo de nossa história vivida, nossa experiência no mundo, isso inevitavelmente nos angustia sobremaneira. Esbarrando na rua com o passado que anda, fala, come, bebe cachaça é que nos faz dar conta de que nossa passagem no mundo não vale absolutamente nada sem essas velhas pessoas que vem e vão à nossa revelia.