Rádio Reverberação

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

As faces do oportunismo: o Palmeiras, o vexame e o ódio


O oportunismo veste a face de Janus. Sobre a continuação da polêmica de domingo na entrega da taça de deca campeão brasileiro ao Palmeiras. A ação promovida pelo clube e pela CBF de oferecer ao presidente eleito palanque foi a mancha mais terrível da história do Verdão. Nada justifica o convite e a imagem que se tirou daquilo. Como palmeirense estou absolutamente envergonhado pela posição tomada pela instituição que sou fã desde 1993. Envergonhado por ver um clube com tamanha tradição, de origem operária, de histórico apelo popular virar as costas para o legado do time e cuspir na cara de seus torcedores ao flertar com populista que troca a camisa de acordo com a conveniência. O Biroliro não é palmeirense, não é flamenguista, não é gremista... ele não é nada. Ele torce para o seu próprio brilho, e Palmeiras erra de maneira execrável ao permitir que isso ocorresse em seu solo. Se fosse outro presidente eleito ou exercício em campo seria igualmente um erro. Comemoração de um título nacional como esse não é de cunho político-partidário. Ao contrário do que disse a múmia, de valor competitivo de um esporte amado pelo brasileiro, o título palmeirense não é de todo torcedor brasileiro. Ele era para ser só nosso, mas nos foi roubado. Roubaram a graça de ser o maior campeão de todos. Abre-se a partir daí a crítica. A diretoria palmeirense tem que ser duramente repudiada por isso. É a falência moral de um clube que cada vez mais tem se afastado de seu torcedor popular e se aproximado de uma camada que só o enxerga como mercadoria. No entanto, entre as legítimas e aqui apoiadas críticas tenho lido postagens impressionantes nas redes sociais em relação a isso. O grau de animosidade e bestialidade é assustador, com isso vem o outro lado do oportunismo. A racionalidade é seletiva. Os mesmos que vestiram a roupa do “sua tia não é fascista, ela está sendo manipulada”, que ficou pop durante as eleições, são os que hoje postam que todo o palmeirense é fascista por “comemorar o título com quem acabou com o ministério do esporte”. Não existe virgem no puteiro. Estão se valendo de clubismo, e não engajamento político (porque sinceramente acho que não tem nenhum) para não só deslegitimar o título (que é normal, esse é o papel do perdedor), ou para criticar a postura deplorável do clube nesse episódio (de novo, tem meu total e irrestrito apoio), mas também para aproveitar todo aquela ponta de ódio ao outro que todo brasileiro tem para eleger mais uma casta fascista: agora todos os palmeirenses. Pessoas essas que eu até reconhecia a inteligência e a razoabilidade, mas pelas manifestações recentes temo ter me enganado rudemente. Quando a “Gaviões da Fiel” lançou a sua nota contrária a candidatura do, agora, presidente eleito, fiquei receoso para o que se confirmou imediatamente, ou seja, a “Macha Verde” não embarcou. Um erro! Porém, esquece-se que a torcida do Palmeiras é muito maior do que isso. Há entre nós comunistas, antifascistas, progressistas. Homens e mulheres que lutam pelo bem do futebol e pelo bem do alvi-verde de Palestra Italia. Mas na busca pelos likes desejados e para a creditar a si mesmos como paladinos da moral de esquerda atacam agora todo uma torcida de futebol. Não me envergonho de ser palmeirense. Me envergonho do episódio lamentável que a diretoria do meu time protagonizou no dia 02 de dezembro de 2018. Comemoro o título esportivamente legítimo do Palmeiras, mas o deca estará eternamente manchado pela traição.

domingo, 16 de setembro de 2018

O voto útil e o caminho da vala



Política é bizarra em todo lugar. No Brasil não é diferente. Em ano de eleições por aqui a coisa fica bem divertida. Isso, é claro, não é necessariamente bom. Sem sombra de dúvidas essas eleições estão cheias de possibilidades e está difícil de cravar quem vai para segundo turno, para disputar com o coiso, o que potencializa a bizarrice deste pleito. Acompanhando os acalorados debates é possível perceber pelo menos quatro elementos que estão conduzindo as campanhas: 1) Há um forte sentimento de necessidade do combate ao candidato na extrema direita, que une certa esquerda e aqueles que sabiamente o enxerga como uma ameaça verdadeira à democracia; 2) Há os eleitores do PT que confiam vorazmente na capacidade do partido em colar na imagem do Lula e convencer aqueles que não querem ser convencidos que o ex-presidente é (e é mesmo) preso político e que o PT sofre um forte boicote (+ ou -). Tem o Haddad agora como candidato, mas que prejudicado pela estratégia kamikaze do partido não conseguirá emplacar identidade própria (poste? Não... despeito dos adversários; 3) Há também um fenômeno novo: o cirismo. Candidato desde 1998 o novo paladino da eficiência enxergou nesse atual cenário de caos político a oportunidade de finalmente se eleger presidente da república. Não conseguiu a coligação que queria e conseguiu angariar uma militância rancorosa que devolve aos amiguinhos abandonados toda a desconfiança que se tem do seu candidato desconfiável... com Kátia Abreu e tudo; 4) A sombra Marina Silva, um câncer que aparece de quatro em quatro anos para tumultuar ainda mais a coisa e embolar a corrida por fora. O maior perigo do segundo turno. Geraldão e o resto poderia ser um quinto elemento, mas tô deboa. Frente a esse cenário a impressão que dá é que a partir do próximo ano não teremos um presidente que realmente queremos. O voto útil, aquele que vai barrar o candidato do PSL (sim! PSL) não está carregado de ideologia, crença ou militância. Isso é mentira. O medo de ter um presidente merda está conduzindo grande parte do eleitorado brasileira a apenas votar “estrategicamente”. Isso seria maravilhoso se estivéssemos em um cenário democrático ideal, mas não estamos. A briguinha que se instaurou entre as campanhas de Ciro e Haddad além de patética reforça um campo de indecisão que é ótimo para o outro lá. O tempo da união já acabou, cada um no seu quadrado, mas o voto do “não” o “útil” vai eleger o presidente que a gente não quer. O golpe de 2016 minou profundamente a nossa política. Fez com que Henrique Meirelles, Álvaro Dias e CABO DACIOLO fossem a debates presidenciais. O Brasil ainda vai sofrer muito com a incapacidade de produzir políticos. Independentemente de quem ganhar... ou não leva ou empurra gente pra vala de vez.


sábado, 13 de janeiro de 2018

Futebol x Política: lados tão opostos?


Em ano de eleições ser aficionado por futebol se torna, imediatamente, um crime hediondo. Isso se dá, principalmente, por ser ano de Copa do Mundo. Muitos se inflamam, compram álbuns de figurinhas, pregam a tabela na porta do guarda-roupa... se tornam os mais ativos comentaristas do esporte bretão. É claro que isso é intensificado de quatro em quatro anos, mas já há muito nossas quartas e domingos são reservados para que em 2 duas horas se possa ter uma miscelânea de sentimentos assistindo 22 pessoas correndo atrás de uma bola tentando coloca-la dentro de retângulo consideravelmente grande. Mas isso é uma cretinice!! É absurdo que frente a um cenário de desmonte das instituições públicas, constantes casos de corrupção no governo, de golpes em prática e retorno do país aos piores índices econômicos (embora o Planalto diga o contrário), se preocupar com que jogador foi comprado ou vendido por um clube é o mais nojento ato de alienação. Estamos todos perfeitamente aptos a falar sobre música, artes plásticas, literatura, cinema, etc, somos críticos por natureza e definição. Afinal, deixar ligado o Spotify durante uma sessão da Câmara dos Deputados enquanto leio as ótimas resenhas do Omelete é muito mais politizado do que comemorar um gol do Palmeiras, isso não! Sabemos que as redes sociais são, e o Facebook encabeça isso de longe, os melhores lugares para destacar a incompatibilidade ideológica de ser militante político e torcedor de futebol... rende muitos “likes”! Incontáveis vezes já li posts que criticavam profundamente não o esporte, mas aqueles que o amam. Na visão daqueles que não gostam, de fato, o futebol é o “ópio do povo”... acreditam que há uma mágica que cega as pessoas e não as permitem que vejam as mazelas do mundo. Como se o futebol fosse o culpado disso. O esporte, esso sim, faz parte disso. Os estádios brasileiros, que já foram os maiores e mais cheios do mundo, democráticos, que ninguém se importava se o cara do seu lado na “geral” era rico ou pobre, preto ou branco, hétero ou homossexual... ali todo mundo tinha um só coração. Com as transformações do país, com as novas políticas, novos públicos, novos estádios o povo pobre, que sempre foi a maioria, está cada vez mais afastado da vida do futebol. Ingressos caros, obrigatoriedades em ser sócio torcedor, uniformes inacessíveis... isso é imagem de um cenário político grave. O esporte, esse não tem nada a ver com isso. O torcedor, muito menos. Quem dirá que o senhor com essa camisa improvisado do Corinthians realmente não está preocupado com os rumos que a sua vida está tomando e não entenda que isso é resultado de políticas públicas que não o inclui. Mas o amor que ele tem pelo Timão não muda, não faz dele uma pessoa ruim e desinteressada. Como tudo nesse mundo, o futebol (não o esporte, mas o seu gerenciamento) é um negócio e que dá muito dinheiro. Mas assim como em tudo nessa vida, cada vez mais menos pessoas podem usufruir disso da forma que gostaria. Comprar uma camisa de R$250? Não é a camisa que fará a diferença. Voltar-se fervorosamente contra o futebol? Muito menos... estão matando o futebol, isso já é sabido... mas, quem jogará a pá de cal?