Rádio Reverberação

terça-feira, 10 de março de 2015

O xingamento à Dilma é um tapa na cara de toda mulher

Dilma, no dia 1 de março no Rio. / MARIO TAMA (GETTY IMAGES)

Todos nós temos o direito de indignarmos pelos desmazelos do governo, denúncias de corrupção, medidas impopulares com interesses partidários, etc. Mas nossas manifestações devem ser feitas a partir de uma série de dados, leitura e compreensão mínima do cenário político que vivemos. As manifestações desrespeitosas contra a presidenta Dilma no último domingo, articulada pela classe média de apartamento (e de casa também), tem mostrado que o conhecimento (talvez “educação” seja melhor) não é uma máxima verdadeira. No dia internacional da mulher, uma presidenta, mulher que venceu toda uma sociedade machista e patriarcal e se elegeu de forma democrática ao cargo de Chefe do Executivo Nacional, ao falar com a Nação, ser xingada aos berros por milhões de pessoas de “vaca”, “vagabunda”, “piranha”, e por aí vai é uma ignomínia. Ali não estava sendo desrespeitada a nossa Chefe de Governo e de Estado, estava sendo xingada uma mulher, um ser humano. Há poucos dias me manifestai aqui nas redes sociais dizendo que nunca fomos tão republicanos, mas a custa de quê? O avanço democrático gera o seu próprio antagonista. Estamos ainda hoje reproduzindo uma cultura política identificada por Oliveira Viana na década de 1930 onde ele identificava que no Brasil o povo não sabe diferenciar o cargo público daquele que o ocupa? Na minha Timeline hoje tinha muita gente (amigos de infância sobretudo) que vociferavam contra a Dilma... mulheres (sim,  mulheres) indignadas com o pronunciamento da presidenta (não tenho certeza se assistiram, deveriam estar batendo panela na varanda de suas casas) dizendo que ela não as representa. Outras diziam que era LAVAGEM CEREBRAL (pessoal assistindo muito o filme Laranja Mecânica) e que aquela “filha da puta” não deveria estar ali. Isso não é apenas histeria, desespero, revanchismo e ignorância... é a mostra que nossa sociedade pouco aprendeu com as desventuras da história de nosso país, principalmente das mulheres que o compõe. Pouco se aprende com a violência diária contra as mães de família em casa, meninas indo para a escola, mulheres em seus ambientes de trabalhos, travestis e transexuais sofrendo para ter uma vida digna. Cada xingo nas varandas e sacadas não foi direcionado para a Dilma apenas, mas como irrefutabilidade do machismo, foi um tapa em cada mulher no dia que simboliza a luta pela igualdade dos gêneros. Um retrocesso... uma pena!

quinta-feira, 5 de março de 2015

Nunca fomos tão republicanos

Montagem: Brasil 247

O noticiário político no Brasil nos últimos tempos tem ficado cada vez mais em evidência. Os intensos debates e disputas políticas, sobretudo as partidárias, revelam que nosso país está atingindo um patamar de seu período democrático em que múltiplas vozes de fato se fazem ouvir. No entanto, a coabitação de vozes não significa o entendimento entre elas. É saudável para a esfera pública que grupos distintos (ou não tão distintos assim) ponham suas cartas na mesa e estimulem o jogo. A instauração da “desordem” que tem por fim a contestação de possíveis discursos unilaterais, que podem levar ao autoritarismo, é um movimento que naturalmente faz valer as possibilidades de transformações do tempo e da política. Se temos um governo de situação forte é bom para o país que também tenhamos uma oposição igualmente forte. O que não podemos confundir, e usualmente confundimos, é que tais não devem se degladiar por tomada de poder movido por interesses meramente particulares em detrimento do bem do povo. Ser oposição não significa ser necessariamente o tempo todo contra, nem ser situação significa aceitar passivelmente quais atos impopulares. A sangrenta disputa entre Planalto x Congresso demonstra que as esferas que comandam o país travaram uma guerra interna que ultrapassa os interesses do país e colocam em xeque o processo de consolidação de nosso republicanismo democrático. Mesmo que os motivos sejam questionáveis, o resultado apertado das eleições presidenciais de 2014 é um indicativo de mudanças na cultura política brasileira. Não obstante, as manifestações pró-impeachment da presidenta Dilma é um ato meramente revanchista, irracional, e antidemocrático. É a ridicularização e infantilização de nossas próprias posturas políticas, que em boa parte da população contrária ao atual governo é guiada apenas por desinformações e mêmes compartilhados nas redes sociais. Hoje a cada 1 passo dado “para frente”, 10 são dados “para trás”. As novas oligarquias (as bancadas evangélicas, ruralistas, conservadoras, etc.), que são cada vez maiores, impedem que os nossos direitos sejam assegurados e se baseiam por interesses econômicos e ideológicos (muito questionáveis). Reforço a ideia que estamos nos tornando cada vez mais republicanos, mas sabemos ser de fato republicanos? A “desordem” democrática está se tornando “bagunça” escandalosa? A “divisão” do Brasil é boa, faz parte do amadurecimento político... mas quando nos jogamos uns contra os outros sem fundo minimamente racionalizável (não entrarei na discussão sobre sensibilidades