Rádio Reverberação

segunda-feira, 31 de março de 2014

50 anos da Ditadura Militar: a memória da miséria humana


Em clássico estudo, Maurice Halbwachs diz que a memória constitui-se da interação dos indivíduos entre si ou entre grupos, tendo as lembranças como resultado dessa interação. Mesmo que a princípio se considere a memória uma produção individual, seu meio de elaboração é fundamentalmente coletivo, visto que o indivíduo está imerso em constantes interações sociais. Narrar a experiência está unido ao corpo e à voz, a uma presença que se faz real, do sujeito no passado. Para Beatriz Sarlo, não há testemunho sem experiência, muito menos experiência sem narração. A linguagem, dessa maneira, liberta certo aspecto mudo da experiência, redimindo-a do imediatismo e do esquecimento, e traduzindo-a para algo que pudesse ser comunicável. Nesta semana estamos re-memorando uma das piores fases de nossa história: o início do vergonhoso golpe militar de 1964 que instaurou a sangrenta ditadura militar no Brasil. Foram 21 anos de sufocamento e barbárie, um verdadeiro passo para o regresso da humanidade. Como historiadores ou como cidadãos não podemos perder de vista o que aconteceu, nem minimizar os efeitos devastadores que os anos de repressão proporcionaram a milhares de pessoas torturadas, mortas e desaparecidas. O passado não deve ser escondido, as feridas não podem ser curadas. A onda neofascista que assolado nossa sociedade hoje é um desserviço para a história e para uma democracia que ainda hoje tenta sofridamente dar voz aos silenciados. Reavivar a memória da ditadura não é recolocar os militares no poder novamente, mas lembrar constantemente da dor das famílias de todos aqueles que perderam suas vidas lutando por nossa liberdade e garantir que o medo e sangue não faça mais parte de nosso presente, e o que de fato isso verdadeiramente não acontece. Tal exercício é uma forma de nos colocarmos em relação ao mundo e nossa comunidade. Não há glória e nem honra na ditadura, apenas a triste certeza da miséria humana.