Rádio Reverberação

terça-feira, 22 de maio de 2012

A falência da imprensa (Parte 2)

Mais uma vez utilizo este espaço para tecer algumas críticas ao jornalismo brasileiro. Não tenho nada contra a profissão nem mesmo contra os profissionais, muito pelo contrário. Uma das minhas maiores fontes documentais são jornais, e hoje eu conheço estudantes de jornalismo que são pessoas muito boas e competentes. Mas como em todas as profissões sempre tem um grupo que se destaca pelo mau serviço prestado a sociedade. Na História podemos encontrar um monte, e no jornalismo também.

Assista o vídeo abaixo:


Com toda certeza esse é um grande exemplo do que há de pior na televisão brasileira hoje, e que possuí um enorme espaço na grade de programação nas principais emissoras de TV aberta. A ordem do dia é explorar a desgraça alheia, menosprezar o indivíduo e vender em cima disso. Uma análise de caso. Essa repórter ou apenas uma mulher que faz o papel de repórter. Fica de plantão na porta de uma delegacia pronta para filmar e “entrevistar” um suspeito de cometer um crime. A vítima é um rapaz aparentemente de baixo poder aquisitivo, que é detido, a princípio, por furto – crime pelo qual ele NÃO nega a autoria -. Sem nenhum tipo de prova contundente a mulher o acusa de estuprador. O suspeito, então, nega a acusação e se sente extremamente envergonhado por tal acusação, e chora ao se defender e apelar para que sua família intercedesse por ele... o que é um prato cheio para que os “produtores” do “programa” inserisse uma vinheta com os dizeres: “Chororô na delegacia: acusado de estupro alega inocência”. Sem contar o escárnio da mulher para com o acusado, ridicularizando-o por dizer que exame de próstata é aquele realizado para saber se uma mulher foi estuprada ou não, tira sarro de sua baixa instrução.

Não estou aqui para defender a inocência do cara ou não. O que está em jogo aqui é o efetivo papel da mídia no que tange ao acesso de informação para a população. O ato de reportar uma notícia, de incitar a competência da reflexão dos telespectadores frente ao acontecimento é totalmente deixado de lado nesse tipo de jornalismo sensacionalista. O foco é único, o de tripudiar sobre a tragédia. O criminoso deve ser preso e pagar pelos seus atos de acordo com os preceitos da lei. Mas, uma emissora de TV despender horas de sua programação para notificar esse tipo de acontecimento é patético. Hoje estamos enfrentando uma série de eventos políticos e sociais de extrema importância, tais como os escândalos políticos envolvendo “grandes” nomes da política nacional e empresas midiáticas de larga circulação, bem como 41 universidades federais em greve; mas esses problemas perdem espaço para uma jornalista estúpida rindo de um indivíduo já preso, ou para a bombástica revelação da Xuxa, sobre o fato dela ter sofrido abusos sexuais na infância, ou seja, há 40 anos.


Não apenas isso. Christina Rocha e seus “Casos de Família”. O que é aquilo? A primeira vista parece ser um programa com “conflitos” armados de tão incríveis e absurdos que são. Mas a armação perde espaço para a exposição das pessoas que estão envolvidas, bem como pela forma que é explorado pela televisão. Sem sombra de dúvida discutir temas familiares de extremo constrangimento em rede nacional não é a coisa mais decente de se fazer. Vários grupos lado a lado discutindo assuntos absurdos perante a uma plateia que está o tempo todo “julgando” os atos daquelas pessoas, tendo a apresentadora como uma espécie de mediadora que emite opinião o tempo todo e no final tem uma devolutiva de um psicólogo que traça um perfil dos participantes... tudo isso intercalado por uma série de propaganda dos mais variados produtos inúteis ao ser humano normal. A dignidade do ser humano é toda jogada no lixo.

Programas do Ratinho e do Leão seguem a mesma linha de um sensacionalismo e da exploração do ridículo que é constrangedora. É uma confusão de elementos, que misturam crítica policial, com casos de família, vida de pseudocelebridades, com musicais bregas e tudo que de mais bizarro que se possa ser transmitido em um programa televisivo.

Tirar esses programas do ar soaria como uma espécie de censura, o que deve ser evitado ao máximo. O direito de opinião deve ser respeitado acima de tudo. No entanto, há certo tipo de manifestação que foge ao bom senso, e sem dúvida Datena e Cia estão entre eles. A televisão não é lixo, e jornalismo não é simples entretenimento. As programadoras viverem de pão e circo é degradante. Além de expor a vida de brasileiros e brasileiras, ganhar com a tragédia alheia, ainda fere o senso de bom gosto do cidadão que está assistindo TV, que a tem como uma válvula de escape para a vida cotidiana que já é tão estressante.

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