SE EXISTE UMA BOA COISA ARTIFICIAL sem dúvida é a imaginação. Quais são os caminhos que ela percorre? Talvez a estrada de tijolos amarelos; ou a Floresta Negra; talvez um que passe bem perto do Ermo do Lampião. A imaginação está nas penas do mais erudito dos historiadores, nas partituras do mais intimista dos músicos, ou nos cautelosos movimentos do mais intrépido ator. A imaginação está em todos os lugares e em todas as pessoas. No entanto, na maioria das vezes ela fica lá escondida, sem dar o ar de sua graça. Ela vive estocada no fundo de uma gaveta escura e úmida, ou anos a fio em uma estante empoeirada... ali parada com muitos olhos a observá-la, mas com nenhum toque corajoso para enfrentá-la. Até na hora de contarmos a mais pura das verdades a imaginação aparece para embelezar o relato. Ela tem uma relação dúbia com a verdade... uma hora ela se alia ao fato para enriquecer o inegável... uma hora o inegável é a própria imaginação, sendo o fato todo apenas fruto daquilo que não poderia ter acontecido. A questão é que nada disso importa. Todo indivíduo dotado de inteligência deveria exercer a sua imaginação, fazer perpétuos contratos com o fantástico. Cada parte de nossa experiência no tempo e no espaço é um mero produto de decodificações de informações processadas pelo cérebro. Cada pessoa vê as cores em tons diferentes, sente calor em diferentes intensidades, ou escuta sons em diferentes frequências. A natureza existe ao mesmo tempo em que é apenas um jogo de significantes e significados, representações delas mesmas... afinal, as árvores por definição são todas iguais, mas na “realidade” isso acontece? Não há idade ou gênero para a imaginação. Umas são mais inocentes do que outras? É claro que sim, mas todas fazem sentido em um determinado auditório. Temos que ler mais livros, assistir mais filmes, escutar mais músicas, fazer as nossas próprias representações da realidade, seja ela verdadeira ou não. Os homens estão sonhando cada vez menos, e isso faz com que Fantasia seja consumida pelo Nada... e quando isso acontecer definitivamente, no momento em que a Torre de Marfim sucumbir, as coisas deixarão de fazer sentido e nos tornaremos mais burocratas do que os Vogons, e nunca mais pediremos corona pelas galáxias! Aí a vida acaba! Descansem em Paz...
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