Eric Hobsbawm
Nós historiadores somos extremamente chatos, principalmente para os não-historiadores. Todas as vezes que vou para a casa dos meus pais e fico conversando com a minha mãe sobre o que eu faço, sobre o meu projeto de pesquisa e do quanto fico feliz quando encontro novas fontes ela faz aquela cara de contente, de superinteressada e que está entendendo tudo que eu estou falando, mas no fundo eu sei que ela não está nem aí. Ela não é a única, e nem a culpo por isso. Entre nós pesquisadores por mais que compartilhamos códigos e signos nos quais nos tornam pares de um ofício ainda somos chatos. Mas o que é pior de tudo isso é conseguir explicar para que serve o que a gente faz. Para nós, em nosso narcisismo acadêmico, sabemos exatamente a serventia de nosso trabalho. Sabemos mesmo? Eu adoro o que faço, há muito tempo venho estudando a escrita da história de Diogo de Vasconcellos (Diogão para os íntimos) e me divirto muito fazendo isso. Mas em uma ocasião sentado na mesa de um bar me perguntaram o que eu estudo e tive problemas em defini-lo de forma rápida, e pior... tive problemas de pensar a utilidade disso. É claro que se ficasse maquinando aqui na cabeça com mais calma eu diria que meu trabalho contribui para se compreender a formação da identidade/memória histórica de Minas Gerais, de como se deu a relação do mineiro com seu passado, bem como o processo histórico que fomentou as várias culturas políticas estaduais ao longo do tempo e blábláblá. Isso não é nenhum tipo de crise não e nem estou discutindo o papel social do historiador, isso é outro papo, mas afinal... compreender isso muda o que mesmo? Efetivamente muda muita coisa, mas só conseguimos perceber tais mudanças a médio e longo prazo. Ser historiador não é fácil, por mais que tenhamos zilhões congressos caros para participarmos e ler o nosso trabalho para várias pessoas que estão temporariamente interessadas naquilo que vamos falar ainda sim é uma profissãozinha pra lá de solitária (que dó!). Mas isso um dia vai mudar... ainda vou chegar em um boteco na minha saudosa Pindamonhangaba, pedirei uma dose de cana e vou trocar ideia com um pingaiada encostado no balcão sobre o uso social da obra de arte na formação dos Estados nacionais modernos na Europa. Hoje o Diogão é de interesse de poucos, e não sei bem o porque que eu estudo ele, mas se eu não tiver fé naquilo que eu faço, quem vai ter? Este post ficou uma bosta... não leiam isso não!
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